quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma espécie de fixação em pombos

Parece que tudo é permitido onde nada se pode, onde a vida se deve, onde não se sabe exatamente qual remédio usar. Enquanto a fauna come a flora ninguém pode fazer nada, não dá tempo nem de gritar.

Você acorda pela manhã, levanta, abre a porta do armário do banheiro - Para que todas aquelas flores na parede, me diz pra que todas aquelas porras de flores na parede? – saca a escova de dente, pasta, fio dental, olha seu rosto jovem no velho espelho e tem a certeza de que não sabe exatamente onde tudo vai dar.

Em direção ao trabalho quando coloca em dúvida suas escolhas - suas não escolhas, sua forma de agir, de pensar, de agir de acordo com o que pensa ou totalmente ao contrário, como uma revolta velada contra si mesmo - tem um sobressalto, uma espécie de soluço a respeito da vida, uma preocupação com o lobo que está a espreita, salivando por sua carne suculenta. Quem vai acender o céu quando o sol apagar ou encenar o pequeno príncipe na calçada?

Agora você consegue perceber algumas coisas escondidas na uniformidade de uma mesmice não tão monótona, mas ainda assim igual. Uma pena que amanhã não vá lembrar. Você nem lembra como é que chegou em casa, com quem conversou ou que tipo de coisa falou. Terá assinado algum documento em branco? Um atestado de insanidade na mesa do bar?

E esses sonhos à la Harold Robbins? Essa existência inspirada em Stephen King com Marcos Rey e Maupassant nas terras de Arthur Clarke. Todas aquelas histórias dos Grimm você bem gostaria de estar lá.

E no dia em que a Emilia entrou na sala dizendo que os pombos do teto chamam pelo nome dela, foi que entendeu que não dá para evitar. Se os pombos estão chamando, responda-os. Diga:

- Olá, pombos do teto, aqui vai tudo bem. E acolá???

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imagem: Bernard Buffet



Um comentário:

NanaG! disse...

Me surpreende sempre com seus textos.