segunda-feira, 27 de julho de 2009

Quem pode tirar água do poço?


Falo sério a partir de agora.

Sério.

Assim, falo sério era mentira.

E não tente entender.


A um passinho para o lado está a cova dos leões.

E andar sempre em linha reta pode ser prejudicial.

Um passinho para o lado então

E algumas voltas na cova do leão.


Não ficam pegadas nesse chão feito de nada.

Flutua-se.

Já dizia algum profeta:

- Não titubeie na cova dos leões.


Manter-se perdido essa é a condição.

Embaralhar o tempo das palavras.

E mandar as favas ao menos ESSA repressão.


Não só por dizer não.

Não me manterão em uma jaula.

Nem você, nem sua cria.

Caia fora ou lhe jogo na cova do leão.

E aviso desde já,

Ele só gosta de mim.

Só eu posso montar nas costas do leão.


By by para você e suas histórias chatas.

By by na boca no leão.

.
.
Imagem: Ernst Ludwing Kirchner

quinta-feira, 23 de julho de 2009

heliantos



Tirei os girassóis da janela

antes de a chuva chegar.

O que fariam eles sem o sol?

Para onde olhar?


Antes da chegada da chuva

chorei pelos outros girassóis.

A lavoura de girassóis que começa no meu quintal e não tem fim.

Não posso guardá-los.

O que farão eles na chuva sem mim?


Vou eu aos girassóis na chuva.

E chove forte, chove pedras, relâmpagos e escuridão.

Os girassóis por sua vez choram por me ver chorar.

E as lágrimas dos girassóis são também pingos da chuva.

A chuva ao ver-me no campo de girassóis quer me salvar.

Vou ficar doente gritam os trovões.

- Já para dentro menina, pare de se molhar!


Não posso.

Não obedeço.

Como poderei eu, aquela que plantou, agora na tempestade os abandonar?

Encharcados,

misturados,

murchos

combalidos.

Essa chuva nunca vai parar?


Morreremos afogados

dissolvidos em água.

Mas lá dentro da casa,

em cima da mesa,

existem os vasos de girassóis

que alguém poderá achar.

.

.

Imagem: retirada da página http://carneebatatas.blogspot.com/ sem confirmação de autor (por hora).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Eu e o desejo


O desejo

que dorme ao meu lado,

que mora comigo,

que morre em mim.

Em mim onde morre o desejo,

morre sua alma e seu beijo.

Em mim quando morre o desejo,

é o ensejo para que eu vá embora.


E quando toda a casa fica vazia,

- A enorme casa,

de gigantes janelas,

formidáveis salões,

vários criados,

muitas alas,

falas e condições. -

eu fui embora.

.

.

imagem: Berthe Morisot