quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Ao mar!
Efetivamente não me importo, apenas arrumo coisas para me preocupar transitoriamente. Nada que produza um efeito estável, o fim da viagem na montanha russa. Não poderia saber. Por que iria eu saber o que realmente importa?
Quem sabe, quem saiba seja o outro eu que vive a me perder, que morre ao me achar, que faz mosaicos dos pedaços de mim. A mim, a quem nunca alcançam, a quem nada acalma, a que já não pode dormir, a mim mesma digo:
- Existem coisas que não se pode evitar. Como quem ama não evita o beijo, o rato não evita o queijo, o louco não evita o mar.
O que me importa deve ser o mesmo que me faz torta, e que não sei o que é. Provavelmente o caminho perdido para algum lugar, o bosque mais alto do mundo, talvez. Talvez, até já tenha estado lá. Talvez, seja um plano malévolo para dominar o mundo,e fico aqui tão medíocre buscando rimas pobres. Por que será? E fico aqui branca de nuvem, por que será?
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Imagem: Ernst Ludwig Kirchner
sábado, 11 de dezembro de 2010
“Ela pensou: um dia, quando a invasão de feiúra tornar-se inteiramente insuportável, comprará no florista um só raminho de miosótis, pequeno caule encimado por uma flor em miniatura, sairá com ele na rua, segurando-o em frente ao rosto, o olhar fixado nele a fim de nada ver, a não ser esse belo ponto azul, última imagem que quer conservar do mundo que ela deixou de amar. Irá, desta forma, pelas ruas de Paris, as pessoas logo saberão reconhecê-la, as crianças correrão atrás, zombarão dela, jogarão coisas e Paris inteira irá apelidá-la: a doida do miosótis...”
Milan Kundera/ A Imortalidade
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Imagem: Bernard Buffet